Não importa o que você fez, se é analfabeto, pobre, se tem problemas com a justiça, se usou outras drogas, se acredita em Deus, independente da sua orientação sexual, em Alcoólicos Anônimos (A.A.) você é bem vindo. A Terceira Tradição garante ao doente alcoólico o direito de se recuperar, sem julgamentos, pré-requisitos ou imposições. A garantia dessa Tradição impede que os membros de A.A., instituam regras para o ingresso ou impeçam alguém de ingressar por algum motivo. A criação da Terceira Tradição não foi tarefa fácil, os membros sóbrios queriam criar normas para a entrada dos futuros companheiros na Irmandade. Instituíram tantas regras que se fossem seguidas ao pé da letra, nem eles mesmos poderiam fazer parte de A.A. Para a sorte de futuros membros (como eu), aboliram todas as exigências de ingresso e decretaram que "Para ser membro de A.A., o único requisito é o desejo de abandonar a bebida". Sabiamente deixaram que o visitante se declarasse alcoólico ou não. Esta Tradição foi o que mais me atraiu na Irmandade. Ninguém me apontou o dedo. Nenhum companheiro me obrigou a prometer que nunca mais beberia. Ao contrário, "eles" me falaram que aprenderam a viver apenas o dia de hoje e como sugestão me ofereceram o "plano das 24 horas". Ensinaram-me que "nunca mais" está muito longe, mas que hoje eu posso evitar o primeiro gole e ofertaram-me um programa chamado de Doze Passos. Confesso que fiquei impressionado. A.A. era diferente de tudo que eu já tinha visto. Senti-me bem junto daquelas pessoas. Estava com os meus iguais. Como bem diz a Terceira Tradição "Quem se atreveria a arvorar-se em juiz, júri e carrasco do seu irmão doente?". Hoje após algumas vinte e quatro horas de sobriedade, com uma vida refeita, percebo o quanto a Terceira Tradição garantiu a minha sobrevivência, pois se no meu ingresso tivessem me obrigado a acreditar em algo ou a ter que fazer alguma coisa eu fugiria e sozinho fatalmente minha sentença de morte estaria decretada. Enéias Brasília - DF Vivência nº 125 - Maio - Junho / 2010 |