Depoimento feminino de A.A. (Alcoólicos Anônimos) Tenho escutado nas salas, pessoas relatarem que no momento em que entraram na primeira reunião, sabiam que faziam parte dali, mas isto não aconteceu comigo. Fui à primeira reunião de A.A. sozinha, após trinta dias num centro de tratamento. Entrei, peguei uma xícara de café e me sentei. Estavam lá três ou quatro homens brancos conversando em pé. Nenhum deles percebeu a minha presença. Outro homem entrou e começou a relatar aos outros a respeito de seu dia de trabalho. Não creio que ele tenha reparado em mim e começou a falar em um colega de trabalho referindo-se a ele como um “crioulo”. Não é necessário dizer como me senti. Agarrei-me na cadeira e li a Terceira Tradição, que estava na parede, e nos diz que o único requisito para ser membro de A.A. é o desejo de parar de beber. Ela não diz nada sobre sexo, raça, religião, idade, etc., e senti que, acima de tudo, eu tinha o desejo de não beber. Todos os tipos de idéias malucas me vieram à mente. Sou da cidade de New York e desde criança ouvia todo tipo de historias de horror sobre as pessoas do sul. Eu não sabia se seria enforcada numa arvore ou coisa pior. O que realmente sabia, é que não desejava me deter diante de nenhum obstáculo para permanecer sóbria. Portanto, mesmo apavorada, fiquei naquela reunião. Ao final, todos se deram às mãos, rezando o Pai Nosso e cantaram. Algum tempo depois, um daqueles homens que estavam presentes em minha primeira reunião, introduziu-me no serviço de A.A. e eu consegui amar a todos eles, mesmo àquele que teve a atitude discriminatória. Hoje sinto que faço parte de A.A. Fiz desse grupo a minha família. Todos demonstraram um amor incondicional por mim e nenhum repara na minha cor. Amadrinho diversas mulheres brancas e sou secretária do grupo. Aprendi duas lições naquele primeiro dia: 1) Alguns de nós são mais doentes do que os outros, mas somos todos filhos de Deus, com o direito de acertar e de errar; 2) Irei sempre acolher um recém-chegado com amor e carinho, pois sei como alguém se sente ao chegar à ultima casa do último quarteirão e não ser bem-vindo. Portanto, se você é um iniciante, tem problema de bebida e não se sente fazendo parte, continue retornando, pois A.A. de fato funciona. VIVÊNCIA N°. 27 JAN/FEV. DE 1994 Depoimento feminino de A.A. (Alcoólicos Anônimos) |