CONCEDEI -NOS SENHOR... Quando deparei-me com: "Concedei-nos Senhor", Senti como se uma casca dura, seca, havia sido retirada de mim. Ao ingressar em A.A., percebi que minha suposta fé era a existência de um Deus, onipotente, fiscalizando minha vida, lógico, quando eu permitia. Percebi também, com o decorrer do tempo, que crer era diferente de uma foto com cruz. Sentia-me constantemente como estando num barquinho à deriva, dentro de um mar infinito. Remava para todos os lados e não chegava a lugar nenhum. Pensava: "Tenho que pedir socorro. Mas será que esse meu Deus vai me conduzir para onde quero?" Relutante, entreguei-lhe um dos remos, ficando com o outro. A qualquer eventualidade, posso mudar o rumo. E assim continuava à "deriva". Sem porto seguro, sem âncora, sem esperanças... Reparei várias vezes a Oração da Serenidade ocupando um pedaço da mesa coordenadora do grupo que freqüento. Rezava. Sabia toda ela, de trás pra frente. Escutava vários companheiros em seus depoimentos comentarem que repetiam a oração diversas vezes ao dia e que lhes fazia muito bem. Comecei então a analisá-la. Constatei que era dificílima. Não sabia o que era para modificar, o que teria que aceitar, como distinguir o que posso e não posso fazer. Acabei jogando tudo para o alto, troquei o que não devia, fiquei com o que era para ser jogado fora e, para completar toda a salada de frutas, não aceitei nada, principalmente a mim mesma. A conseqüência foi uma forte depressão. Um dia, chegando mais cedo ao grupo, fui aproximando-me da oração. Por incrível que possa parecer, ela estava diferente. Durante todo o tempo que eu a havia proferido, era tão decorada que nunca me detive na frase principal. Lógico que depois entendi: minha prepotência, onipotência, não permitia. Quando deparei-me com: "Concedei-nos Senhor", senti como se uma casca dura, seca, havia sido retirada de mim. Respirei fundo e falei alto, comigo mesma: "É Ele, é o Senhor, é Deus quem vai me dar serenidade, coragem e sabedoria. Somente a necessária". A que para mim for necessária. A partir daí, ficou tudo simples. Tinha alguém por mim. Para mim e dentro, bem dentro de mim. Peguei o outro remo, que até então segurava firme, precavida em minhas mãos e entreguei ao meu maior amigo, irmão, pai. Confiei, aceitei. O meu barco foi tomando rumo, sem questionamentos. Seguiu o rumo que eu merecia, não o que projetava em meus sonhos e ambições. Hoje, todas as minhas orações precedem com "Concedei-me Senhor". Somente este Poder Superior, sabe o que pode me ser concedido. E eu aceito, porque creio na sua força e luz. Cheguei ao cais, que é meu lar. Permanecemos juntos, cada vinte e quatro horas. O meu porto seguro estava dentro de mim, é minha fé. Somente com ela consegui me libertar das minhas amarras. (Vivência nº 44 – Nov./Dez. 96) |