Contribuir: obrigação ou privilégio ? Quando chegamos em Alcoólicos Anônimos recebemos importantes sugestões e informações que nos têm sido úteis em nossa vida na sobriedade e no conviver dentro da Irmandade, resultado de experiência que montaram mais de 50 anos. Algumas delas, porém, desde os primeiros anos de A.A., vêm sendo mal entendidas, distorcidas e, por isso, mal transmitidas aos novatos que, por sua vez, as repassam também destorcidas. Uma delas, o espírito da auto-suficiência recomendado pela 7ª Tradição, é o tema deste trabalho. Afinal, nossa auto-suficiência representa uma obrigação ou um privilégio para o membro de Alcoólicos Anônimos? Deixemos a conclusão para mais adiante. Procuremos rememorar oque temos visto sobre a matéria desde o nosso ingresso até o dia de hoje. Por estarmos presentes à Conferência é de se esperar que nossa vivência em A.A. tenha algo em comum: aceitamos os Passos sugeridos para nossa recuperação; através das Tradições valorizamos a importância da Unidade e, mantendo nossa mente aberta, aceitamos a responsabilidade do Serviço, o que nos trouxe à Conferência. Com relação ao nosso tema, lembramos que o que ouvimos há tantos anos atrás, quando de nossa chegada em A.A., é o que se diz até hoje aos recém-vindos. Em A.A. não se pagam taxas nem mensalidades. Na ânsia de conquistar o novato, quase sempre a informação para por aí, o que e constitui em meia verdade, às vezes tão perigosa quanto a inverdade. Quando a informação vai adiante, fala-se que somos autossuficientes graças às nossas próprias contribuições e, para não espantar o novato, apressamo-nos a dizer que essas contribuições nós as colocamos na sacola somente para ajudar a pagar a sala, o cafezinho e pequenas despesas do Grupo, mas só contribuímos se pudermos, se quisermos, ou com o quanto desejarmos, pois não há obrigação nenhuma por parte do membro de A.A. Isto, é o que se planta na mente do novato e o que ele nega-se a alterar quando vai passando o tempo e repudia a ideia de que essa não é a verdade sobre dinheiro em A.A., quando passa a considerar-se veterano. O que temos visto ser feito para alterar este quadro ao tempo em que estamos em A.A.? No nosso entender, todas as campanhas havidas e que tomamos conhecimento tentaram as soluções pelo lado errado: as tentativas basearam-se sempre em conseguir a adesão dos membros mais antigos que já tinham recebido a informação capenga e, como vimos, não apresentam a mínima intenção de aceitar o verdadeiro alcance da importância da nossa contribuição para pagarmos nossas contas e financiarmos a execução do nosso propósito primordial: transmitir a mensagem ao alcoólatra que ainda sofre. Rememoramos algumas dessas campanhas, além dos numerosos artigos saídos no BOB, na Revista Vivência e em circulares do ESG, sempre visando exatamente o terreno infértil dos que se negam a mudar suas posições: a campanha dos carnês e a campanha do sorteio de um automóvel. Segundo sabemos, não houve prejuízos nem em uma nem na outra, mas ficamos muitíssimo longe das metas e das possibilidades que existiam à época em que as mesmas foram encetadas. Nas diversas campanhas já havidas, os companheiros que as minaram vinham com argumentações as mais diversas. Eis algumas: A.A. só precisa do dinheiro necessário para as pequenas despesas com o funcionamento do Grupo, diziam os que temiam e temem que o dinheiro possa nos fazer mal. Outros sugeriam que o dinheiro necessário para a manutenção de nossos Órgãos de Serviço e para a efetivação dos trabalhos relativos ao propósito primordial da Irmandade fosse conseguido com o lucro da venda da nossa literatura. Esta argumentação peca pela base, pois ela fere frontalmente a própria Sétima Tradição. Segundo estudos feitos pelo Escritório de Serviços gerais, em Nova York, cerca de 45% das vendas da literatura ditada com a aprovação da Conferência de Serviços Gerais são efetuadas a pessoas e entidades não A.A. Ora, por esses dados, o lucro obtido com a venda dessa literatura a pessoas e entidades estranhas à nossa Irmandade é dinheiro de fora. Ademais, o objetivo principal da literatura não é conseguir benefício econômico, e simo de levar a mensagem de A.A. O ideal, muito pelo contrário, seria o aumento da receita via contribuições espontâneas que possibilitassem a própria diminuição do preço de venda da literatura. Qual seria, então, o caminho a seguir, se todas as tentativas até aqui falharam? Acreditamos que, em primeiro lugar, precisamos tirar proveito de nossas falhas experiências do passado: campanhas junto aos mais antigos estão fadadas ao fracasso ou sofrerão repulsa. Voltemo-nos, então, para os novos, os que estão chegando. Comecemos uma campanha longa, mas firme, que não renderá grandes frutos, a curto prazo, mas que, arando em terreno fértil para receber uma semente que germine o novato a médio prazo, obteremos solidez financeira para que possamos atender nossas despesas grupais, de nossas Áreas e do A.A. como um todo. E o que dizer daquele temor estremado com o medo do mal que o dinheiro em demasia poderá nos fazer? Ora, como as contribuições são espontâneas, os próprios contribuintes poderão regular o fluxo do dinheiro. Bons planos de trabalho no espírito da 5ª Tradição apresentados pelos Órgãos de Serviço implicarão injeção de dinheiro. Se, por outro lado, nossas Centrais de Serviços, nossas Áreas ou qualquer outro setor de nossa Estrutura não estiverem atingindo sua finalidade, estancar-se-á a contribuição financeira. Precisamos, isto sim, estarmos atentos para a escolha de nossos servidores de confiança, para que trabalhem com correção e transparência, permitindo que cada contribuinte tenha uma ideia exata do que está sendo feito como dinheiro arrecadado. O livrete "A Tradição de A.A. - Como se desenvolveu", escrito por nosso co-fundador Bill W., em 1955, já indicava conclusões a respeito do dinheiro em A.A.: a) que o uso do dinheiro em A.A. é um assunto da mais séria importância. Onde seu uso termina e seu mau uso começa é o ponto que deveríamos cuidadosamente considerar; b) que A.A, já se comprometeu ao uso moderado do dinheiro, pois não poderíamos pensar em abolir nossos escritórios e locais de reuniões só para evitar completamente as finanças; c) que o nosso verdadeiro problema consiste em fixar limites inteligentes e tradicionais acerca do uso do dinheiro, assim conservando sua tendência distribuidora a um mínimo; e d) que as contribuições voluntárias ou compromisso (para nós o plano 60-25-15) deveriam ser nosso principal e, eventualmente, único sustento; que esse tipo de autossuficiência há de sempre prevenir nossos Escritórios de Serviços e Setores da nossa estrutura de saírem do controle de A.A., pelo fato de seus fundos poderem ser prontamente cortados quando deixarem de nos servir bem. Se falharmos em mais essa tentativa, poderemos prejudicar os serviços de A.A. Sem nossos serviços, sem dúvida, perderíamos a maior oportunidade que teriam milhares de alcoólatras que ainda não sabem a respeito de A.A. Alfredo III Porto Alegre/RS InformAApar/novembro/2004 Vivência nº 94 - Março/Abril 2005 |