Pelo menos até o início da década de 50, quando ainda não haviam sido publicados os Doze Passos, que só ocorreria em 1953, os AAs dos Estados Unidos adotavam, como programa de abstinência, os slogans: "Se tem que tomar um trago não o tome" e "Só por hoje". "Não se falava em "Evite o primeiro gole" ou em Programa das 24 horas". Não havia ainda nenhuma estrutura de apoio suficientemente organizada, pois o primeiro Escritório de Serviços situado em Versy Street, New York [USA] havia nascido em 1940 e não dispunha de recursos humanos suficientes para atender, particularmente, os poucos membros em vacilação, os quais, por outro lado, contavam com poucas reuniões em Nova Iorque. Certamente, preocupados com esses aspectos imaginaram um sistema que mantivesse viva na lembrança dos que se recuperavam, e, nasceu um programa intitulado "Psicologia do Níquel do telefone" que consistia em estimular os companheiros a conduzirem no bolso o número do telefone de outro junto com um níquel, para nos momentos de vacilação, antes de voltarem a beber, usarem. Deu certo. Foi substancial e muito animador o índice de recuperações. Esta campanha, através do Boletim Mundial, chegou ao nosso conhecimento, ao conhecimento de um AA brasileiro ainda engatinhando, apalpando no escuro, que tudo fazia na base do "deve ser assim" por que o nosso saudoso fundador, Herberth L. D., quando aqui veio, também quase nenhuma experiência institucional possuía e, pois, embora com muita disposição e boa vontade, pouco podia ilustrar. Mas, surgiu um grave problema. Como adotar aqui essa campanha, com o fechadíssimo conceito de anonimato de então, quando poucos membros nem mesmo davam seus nomes? Como usar um "níquel no telefone", objeto então muito raro, tanto particular como publicamente? Era, na época, privilégio de poucos a posse de um aparelho telefônico e Escritórios de Serviços, nem pensar!... Foi quando alguém lembrou que, recentemente, o governo federal havia fechado todos os cassinos, e, portanto, nas lojas de material especializado deveria estar encalhado tudo que usavam inclusive fichas de mais variadas cores. Era a solução! Nasceu, assim, o clássico "jeitinho brasileiro" um sucedâneo para o "níquel no telefone". E essas fichas, nesses anos de A.A. no Brasil, estão nos bolsos de milhares de companheiros, lembrando-lhes a última reunião em que estiveram presentes, os depoimentos que calaram fundo, os novos fatos na vida de cada um, o progresso, tanto material como espiritual conquistado. Representam as fichas, de certa forma, uma "Tradição" de A.A. brasileiro que, ultimamente, registra com alegria sua adoção por AAs de outros paises, incluindo os companheiros estadunidenses. A "troca de ficha", até a ficha de dois anos, era feito pela vontade, o desejo do companheiro de que a ficha que estava devolvendo, que trouxe, que tanto de seu calor humano continha, fosse levar, ao novo portador, tudo aquilo que conquistara. Havia muito sentimento, de fraternidade, nessas solenidades. Por outro lado, no caso de uma infortunada recaída, devia o companheiro, sigilosamente, com o seu padrinho ou algum outro companheiro de sua absoluta confiança, quebrar essa sua ficha, evitando o prosseguimento de seu ciclo, de sua imagem negativa. Essa é a história das fichas no Brasil. Vivência nº 106 - Mar./Abr. - 2007 |