Existe "vida" sem álcool e drogas! Há um bom tempo venho observando a mudança na freqüência às reuniões de A.A. De uns tempo para cá a freqüência nas salas é outra; há mais jovens devido ao uso concomitante com drogas ilícitas. Sabemos que o uso de drogas ilícitas derruba mais rápido do que o uso do álcool; o estrago atinge proporções assustadoras. O número de pessoas aumentou devido ao aumento da população, da divulgação da programação, da liberação do álcool tanto incentivado em comerciais. Com isso, vemos salas de A.A. e N.A. quase todas lotadas, mas vemos também número proporcional ao crescimento de recaídas. Como coordeno as "Reuniões de Novos" na sala de A.A. do Grupo que freqüênto já algum tempo percebi a dificuldade dos jovens em permanecerem sóbrios. É muito mais fácil para uma pessoa de quarenta anos se fechar, em casa, evitar velhos caminhos, bares, companhias, etc. Mas, para os jovens, a coisa fica mais complicada... Eles estão no ápice da idade, baladas, escola, faculdade, lugares regados a álcool e drogas. Então as tentações, os estímulos são bem maiores do que para uma pessoa de quarenta anos, que passou por tudo isso. Percebo a dificuldade em se "trancarem" em casa, evitando tudo e todos. E em geral, quando abrem a "gaiola" e se arriscam aos velhos caminhos, uma balada, por exemplo, voltam depois de um tempo... recaídos. Quando um jovem avisa em partilha que vai a uma balada, que já se sente preparado, uma luz se acende em minha mente, e percebo que muita gente, inclusive eu, tenta mostrar a esse jovem, que todo cuidado é pouco e em geral, percebemos que a pessoa está indo para beber e usar, mas não tem consciência disso e como somos impotentes, ficamos no aguardo, orando sabendo que as chances de voltarem sóbrios é pequena. Procuro dar as sugestões que recebi quando ingressei; se for voltar aos estudos, espere um ano, pelo menos. Explico que quando ingressamos em A.A. e experimentamos a sobriedade, depois de um tempo curto nos sentimos aptos a fazer tudo; sentimos o prazer de ver a vida sem o álcool e as drogas; queremos recuperar logo o tempo perdido e é ai que nos perdemos. Muitas vezes só duas pessoas irmanadas, nesta situação, dois "novos" de programação também não funciona. O ambiente pesado, muito álcool, drogas, e dois iniciantes que se sentem fortes, mas na verdade estão frágeis naquela situação de entusiasmo e euforia; é grande a chance de recaída dupla. Então, sugiro irem em bandos... Explico melhor - comecei a unir os jovens e os levei a uma pista de patinação no gelo que estava instalada no Shopping: fomos em bando e nos divertimos muito... Fomos no boliche, também em bando: churrascos, aniversários, sempre todas as mesas regadas com muito suco, refrigerantes e água em abundância e foi uma alegria. Fomos comer pizza, viajar, mas antes íamos à reunião de A.A.; ligados na programação, um auxiliando o outro, bem na expressão que uso "Me Empurra que Eu Te puxo". Conseguiram perceber que não estão sós apesar de terem sido privados , por evitarem lugares que estimulam o uso. Hoje não estão mais sós! Têm amigos, os de A.A.. Então, aos poucos esse hábito entre eles foi criado e os novos que vão chegando, são levados pelos "menos novos" de sala, mas novos na idade, a se juntarem... E eu brinco: - "junte-se aos bons"... Muitos programas sadios são feitos entre eles. O temido final de semana, antes em bares junto a alcoólicos e drogados; a solidão doída, fechados em casa, impossibilitados de sairem, hoje já não é tão temida entre eles, pois estão juntos num só propósito de se divertirem sem a necessidade de qualquer substância que altere seus humores. Descobriram que existe "vida" após o álcool e drogas: existe alegria e felicidade sem terem que usar nada! Revista Vivência nº 109, pág. 07/08 |