Não ser ''o elo mais fraco'' Nestas 24 horas, como pensar, sentir e agir para fortalecer, e não enfraquecer a poderosa corrente de transmissão da mensagem de A.A. ao alcoólico que ainda sofre ? A literatura de A.A. foi quase toda escrita por um mesmo alcoólico sóbrio e que através da intensa convivência com seus companheiros e companheiras, parece ter estado sempre em estreito contato com um Poder Superior, que preside nossas ações em torno do nosso único e primordial propósito. Nela encontro frases profundamente sábias e também belas. Umas dessas frases, para mim carregada de uma força espiritual tremenda, encontra-se no enunciado integral da nossa Primeira Tradição: ''Cada membro de Alcoólicos Anônimos é apenas uma pequena parte de um grande todo. A.A. precisa continuar a viver ou a maioria de nós certamente morrerá. Portanto, nosso bem-estar comum vem em primeiro lugar. Mas o bem-estar individual vem logo depois. Então, observo que me é fácil ajudar a preservar o bem estar coletivo quando tudo corre bem no meu grupo base, Mas, e quando surgem dificuldades: no relacionamento entre membros, na manutenção da autossuficiência, na frequência diária às reuniões, no trabalho com os outros? E quando um membro adoecido para além do alcoolismo afeta repetidamente os vínculos e o funcionamento dos reuniões? E quando alguém resolve fazer política e ''mexer os pauzinhos'' para conseguir o que crê ser ''o melhor'', ou se recusa a praticar a princípio da rotatividade? E quando ocorrem fofocas, quebras de anonimato alheio , envolvimentos emocionais, ciúmes entre membros ou recaídas? E quando outros empreendimentos, tais como grupos de amigos, recreação ou outras Irmandades, se confundem com o nosso único e primordial propósito? E quando faltam voluntários para os mais simples serviços diários? E quando, em meio a tudo isso, eu mesma estou em dificuldades pessoais: no trabalho, na vida familiar ou comigo mesma? Acredito cada vez mais que é exatamente a ocasiões desse tipo que a Primeira Tradição se destina. Quase sempre é dentro de circunstâncias difíceis que meu ego sente ímpetos de acordar a alcoólica que mora em mim para reagir como no passado: impondo, manipulando, pondo lenha nas fogueiras, desconfiando, julgando, punindo, me sentindo superior diante de supostas fragilidades alheias ou simplesmente fugindo. Então, vejo que é precisamente nos momentos desagradáveis ou duros de roer que preciso sacrificar o meu ego e me colocar a serviço do tal bem estar comum, fazendo o que couber para me tornar parte da solução: estando presente , apadrinhando, não-julgando e zelando por praticar o nosso inteiro colar de Doze Tradições, onde o pingente do bem estar comum se sustenta... ou não. Mas, pra mim o ''pulo do gato'' é que não poderei ser mais um elo na corrente de A.A., íntegro e forte, se não estiver em dia com minha própria recuperação do alcoolismo, ou seja, com minha abstinência diária ( de álcool e de tudo que possa me levar de volta a ele ) baseada nas práticas diárias de: rendição, fé e entrega; casa interior limpa e com faxinas periódicas mediante a ajuda por Poder Superior do meu entendimento e também de outros seres humanos da minha confiança; disposição de modificar meus defeitos e melhorar a mim mesma continuamente; reparação imediata dos danos que ainda provoco; contato consciente com o Poder Superior; prática de tudo isto em relação a todas as minhas atividades e disposição para transmitir graciosamente, a alcoólicos que ainda sofrem, tudo quanto recebi e recebo graciosamente dessa Irmandade mundial, cujos ricos e históricos reflexos chegam diariamente ao meu grupo de base. E isso não é tudo: descobri também que não consigo permanecer em dia com minha recuperação solitariamente. Percebi isso porque, durante alguns anos trabalhando à noite e indo ás reuniões apenas nos finais de semana, deu-se que o meu afastamento do dia-a-dia do grupo base fez toda (má) diferença: foi o período em que mais senti dificuldades em permanecer bem ( apesar da abstinência contínua ) , tendo experimentado depressão, autopiedade, medos irracionais, fúria e obsessão por ideias de fuga das minhas responsabilidades, só para citar uma parte da lista de mal-estares. Ou seja, constatei na própria carne e na própria alma que apenas na convivência cotidiana do grupo base, compartilhando minhas experiências, forças, esperanças e dificuldades, ouvindo diariamente ( durante duas horas e não menos ), me expondo na prestação se serviços, desfrutando coletivamente da nossa literatura, sendo reeducada e compelida a agir corretamente nas dificuldades do grupo como um todo, me entregando a essa Força Superior que se manifesta em nossa consciência coletiva, é que sou devolvida á sanidade em meus próprios assuntos pessoais. Esse doloroso percurso já em abstinência forjou e m mim uma convicção de que nossos 36 princípios ( Doze Passos, Doze Tradições e Doze Conceitos ) formam um círculo. que certamente será virtuoso, dinâmico e incrivelmente eficaz sobre o meu alcoolismo e meus defeitos de caráter apenas se eu estiver integrada a ele o melhor que puder e numa base diária. Tem sido assim que tenho sido levada a uma vida de simplicidade, honestidade, mente aberta, enraizamento com desprendimento, leveza mesmo em meio à dor, a adversidade e ao erro, além de sentimentos de profunda gratidão, felicidade e alegria de viver, que vejo presentes dentro de mim em todos os meus dias - mesmo naqueles que, no meu limitado modo de ver, são os ''piores''. Posso dizer então que, no meu caso, meu bem estar pessoal está conectado e passou a ser visceralmente dependente do bem estar comum do meu grupo base. Por isso sou a primeira interessada em preservar as melhores condições espirituais desse conjunto de companheiros e companheiras que graciosamente me ajudam a preservar as minhas melhores condições espirituais. Tudo isso para bem viver a vida, para a qual sou devolvida diariamente por um Espírito do Universo, sempre mistérios o e bondoso comigo, já que há mais de 50 anos providencia todas as noites o meu sono e me desperta a cada manhã, anônima e maravilhosamente. Um elo da corrente R. Vivência 155 - Maio/Junho 2015 |