Bill W. Eis porque, plenamente solidário com os elevados propósitos e princípios que regem a nossa Irmandade, sentimo-nos verdadeiramente feliz em poder, mais uma vez, earrow2 com vocês, desta feita, para dialogarmos sobre o controverso tema O Anonimato - Vivendo as Nossas Tradições, por sinal, assunto central da 39ª Conferência de Serviços Gerais de A.A., realizada na cidade de New York, no período de 23 a 29 de abril de 1989, reunindo servidores dos E.E.U.U./Canadá. É oportuno ressaltar que todo cuidado foi tomado para que o nosso trabalho não se confunda com outras interpretações, de modo que, ao inserirmos breves e concisas noções sobre o tema enfocado, o fizemos na certeza de que, aqueles que as aceitarem, terão uma verdadeira compreensão do que fazem e porque o fazem. Assim, faz-se necessário dizer que, pela simplicidade do trabalho, é bom de se ver que a sua finalidade outra não é senão a de subsidiar e orientar e, por isso mesmo, não dispensa a complementação eficiente de companheiros mais experientes, que vivenciam, com dedicação e zelo, o programa de recuperação oferecido por nossa instituição. Por isso, imbuído, somente, da intenção de poder ser útil, alimentamos a esperança de que os conceitos aqui expostos sejam resposta para as dúvidas que se nos apresentam no dia-a-dia de nossa recuperação. Desse modo, para que o tema enunciado seja desenvolvido, faz-se mister a conceituação do que venha a ser Anonimato, razão que nos leva a tentar esclarecer, sem a pretensão descabida da elucidação do termo. Será, assim, este trabalho, um lembrete aos companheiros, para que o tema levantado seja, posteriormente, aprofundado e enriquecido com experiências outras e saberes os mais diversos, sempre visando a ajudar ao alcoólico que sofre. De uma forma geral, Anonimato é o artifício usado por aquelas pessoas que não querem ser identificadas. Para nós AAs, esse termo tem uma conotação mais abrangente, haja visto que representa o maior símbolo de sacrifício pessoal, a maior proteção que a Irmandade pode ter, a chave espiritual para todas as nossas Tradições e para todo o nosso modo de vida. Escrevendo sobre o Anonimato, Bill W. diz em certo trecho: "Começamos a perceber que a palavra anônimo tem para nós uma grande significação espiritual. De maneira sutil, mas vigorosamente, lembramo-nos de que devemos colocar os princípios antes das personalidades; que renunciamos à glorificação pessoal em público; que. nosso movimento não apenas prega, porém pratica uma verdadeira humildade". Foi dentro desse princípio, de ajudar anonimamente, que Bill W. recusou o título de Doutor Honoris Causa que lhe fora oferecido por uma Universidade Norte americana; nesse mesmo passo, Bill W. renunciou a grande soma de dinheiro a ele oferecida por companhias cinematográficas norte-americanas, para filmar a sua vida; foi esse mesmo Bill que, recusando o prestígio pessoal, não permitiu que o seu retrato fosse estampado na capa da revista "Times", quando de uma reportagem que ele solicitara sobre Alcoólicos Anônimos. De outro lado, temos a clássica história envolvendo Bill, Dr. Bob e alguns de seus amigos. Conta-nos Bill que, "quando se soube com toda a segurança que o Dr. Bob estava para morrer, alguns de seus amigos sugeriram que se erguesse um monumento ou mausoléu em sua homenagem e à sua esposa Ane - algo digno de um fundador e de sua esposa. Naturalmente, esse era um tributo muito espontâneo e natural. O comitê chegou inclusive a mostrar-lhe um esboço do monumento proposto. Contando-me a esse respeito, o Dr. Bob sorriu e disse: "Deus os abençoe”. "Eles têm boa intenção, mas pelo amor de Deus, Bill, que sejamos enterrados, tanto você como eu, da mesma maneira como são todas as pessoas." O que nos deixa perplexo, é o fato do nosso co-fundador haver escrito há 35 anos atrás a realidade do mundo moderno. Em seu artigo: "Por que o A.A. é Anônimo" ele diz entre outras coisas: "Como nunca, a luta pelo poder, prestígio e riqueza, está arrasando a civilização - homem contra homem, família contra família, grupo contra grupo, nação contra nação. Quase todos aqueles envolvidos nessa violenta competição declaram que seus objetivos são: a paz e a justiça para eles mesmos, para seus semelhantes e para suas nações. "Dê a nós o poder", eles dizem, e faremos justiça: dê a nós a fama, e daremos nosso grande exemplo; dê a nós o dinheiro, e ficaremos satisfeitos e felizes. As pessoas do mundo inteiro acreditam profundamente nisso e atuam de acordo com isso. Nessa espantosa bebedeira seca, a sociedade parece earrow2 entrando num beco sem saída. O sinal "pare" está claramente marcado. Ele anuncia "desastre". Por isso, no mesmo artigo, ele acrescenta: "Quando o primeiro grupo de A.A. tomou forma, logo começamos a aprender muita coisa sobre o sacrifício e suas resultantes. Descobrimos que cada um de nós tinha que fazer sacrifícios pelo bem earrow2 comum. O Grupo, por sua vez, descobriu que deveria renunciar a muitos de seus próprios direitos para garantir a proteção e bem-earrow2 de cada membro, bem como de A.A. como um todo. Esses sacrifícios tinham que ser feitos ou A.A. não poderia continuar a existir." Toda a Irmandade tem conhecimento de que o Anonimato foi o tema que mais preocupou os nossos co-fundadores, haja vista a maneira errônea como tem sido interpretado pela maioria. A prova disso está no fato ocorrido quando de sua última mensagem enviada aos companheiros que lhe prestavam solidariedade, por ocasião dos seus 36 anos de sobriedade. Já sem forças, Bill pediu a Lois - sua esposa - que o representasse, lendo aos companheiros solidários a seguinte mensagem: “... meus pensamentos hoje são cheios de gratidão para com a nossa Associação, pelo sem número de bendições que nos tem dado a graça de Deus. Se me perguntassem qual dessas bendições era responsável por nosso crescimento como associação e mais vital para nossa continuidade, eu diria: “O Conceito do Anonimato””. Feitas estas considerações, resta-nos à luz da literatura e experiências pessoais, vivenciadas no dia-a-dia de nossa recuperação, entrar no ponto axial do tema proposto, cuja essência está inserida nas 11ª e 12ª Tradições, in verbis: “11ª Tradição - Nossas relações com o público baseiam-se na atração em vez da promoção. Cabe-nos sempre preservar o anonimato pessoal na imprensa, no rádio e em filmes.” 12ª Tradição - O anonimato é o alicerce espiritual das nossas Tradições, lembrando-nos sempre da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades”. Embora, as 11ª e 12ª Tradições sejam completamente distintas, jamais poderão ser analisadas separadamente, haja vista que, ambas se completam para mostrar ao grande público, que Anônimos somos nós - membros de A.A. - e não a irmandade de Alcoólicos Anônimos. Portanto, a irmandade pode e deve ser divulgada, nós não. Enquanto a 11ª Tradição diz respeito ao Anonimato Pessoal, a 12ª encerra, pura e simplesmente, a Tradição do Anonimato. Dissecando, então, o conteúdo dessas Tradições (11ª e 12ª), verifica-se com facilidade que a 11ª Tradição faz referência a preservação do Anonimato Pessoal, única e exclusivamente em termos de mídia, o que significa dizer, que não existe Anonimato em nossas relações interpessoais. De outro lado, ao nos lembrar da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades, a 12ª Tradição visa demonstrar, de forma explícita, que a “substância do Anonimato é o sacrifício”, e que, é através desse sacrifício que devemos procurar vencer as paixões e submeter a nossa vontade individual em prol de toda uma coletividade. Ante as razões apresentadas, é fácil concluir que:
Portanto, ao assumirmos a responsabilidade de levar a mensagem salvadora ao alcoólatra que sofre, devemos sempre ter em mente o seguinte:
Assim, procurando deixar o leitor bem familiarizado com o tema, nas suas mais diversas formas e aspectos, condensamos, dentro do possível, o que segue abaixo: Anonimato Pessoal: Deve ser mantido na Imprensa, no Rádio, na Televisão e no cinema, da seguinte forma:
Ao fim, se nenhum de nós desperdiçarmos publicamente nosso valor, ninguém possivelmente irá explorar A.A. para benefício pessoal. O Anonimato não é apenas algo para nos salvar da vergonha e do estigma alcoólico; seu propósito mais profundo é, na verdade, manter nossos egos tolos, sob controle, evitando que corramos atrás do dinheiro e da fama pública à custa de Alcoólicos Anônimos. Com efeito, ainda em seu artigo “Por que Alcoólicos Anônimos é Anônimo”, Bill afirma: “... o temporário ou aparentemente bom pode muitas vezes não ser aquilo que é sempre o melhor. Quando se trata da sobrevivência de A.A., nem o nosso melhor será bom o suficiente.” E conclui: “Agora nos damos conta de que cem por cento do anonimato diante do grande público é tão vital para a vida de A.A., como cem por cento de sobriedade o é para a vida de cada membro em particular. RV. 012 - Out/Dez 89 |