O que são recaídas? Acontece por acaso? Por: Emílio M. 01). – Denominamos de recaída quando alguém abstêmio ou sóbrio graças à A.A. se embebeda. Isto pode acontecer nos primeiros dias, meses ou até depois de vários anos de abstinência ou sobriedade. Aqueles que passaram por esta desafortunada experiência, declaram que deram sorte para o azar, esquecendo sua impotência alcoólica e desenvolvendo excessiva confiançaquanto à sua capacidade para controlar a bebida. Porém, a maioria confessa seu afastamento das reuniões de A.A. e do convívio com outros membros. Atribuindo prioridade aos assuntos sociais, de negócios ou de outra natureza e exagerando nestas atividades cansaram e perderam suas defesas emocionais, mentais e espirituais. Alguns se supunham “curados”; e, esquecendo da programação proposta pela nossa Irmandade, ingeriram o 1º gole, reativando a doença de que são portadores. 02). – Assim fica bem entendido que no alcoolismo, como em qualquer outra doença, a falta de cuidados com o tratamento, as recaídas acontecem, independente do tempo que se esteja sem beber. Sendo verdadeiro que, quanto maior o período de abstinência ou sobriedade, menor a possibilidade de recair, muito mais verdadeiro é que, a atribulação que ela imporá muito maior será. 03). – Por experiência própria afirmo que nada, neste mundo, é mais calamitoso e tenebroso do que a recaída alcoólica. Ela sempre existiu e continuará existindo, pois nenhum de nós está curado ou vacinado contra o alcoolismo; assim, qualquer desleixo poderá ser fatal. Como a bússola aponta para o pólo norte – a mente do alcoólico, pela peculiaridade da doença, aponta para o álcool. Para aqueles que nem eu, portadores de patologia associada (comorbidade). No meu caso graves surtos de depressão endógena do tipo bipolar (Outrora denominada de PMD – Psicose Maníaca Depressiva), os cuidados devem ser redobrados. Preciso tratar destas patologias concomitante, caso contrário o perigo é extraordinariamente maior e associar isso, a prática dos princípios de A.A. deve ser levada a sério – Só Por Hoje – até a morte chegar, mas não pelo alcoolismo ativo. 04). – “A idéia de que de algum modo, algum dia, vai controlar e desfrutar da bebida constitui a grande obsessão de todo bebedor anormal. A persistência dessa ilusão é incrível. Muitos a perseguem até as portas da loucura e da morte”. 05). – A experiência de A.A. explica o que são as recaídas, que elas não acontecem por acaso e que podem ser evitadas desde que a manutenção da sobriedade tenha prioridade máxima. 06). – Considerando a gravidade de uma recaída permito-me tecer alguns comentários, que poderão ajudar-me e, quiçá, ajudar-te: 06A). – É indispensável eu estar alerta aos sinais que antecedem uma recaída, alguns dos quais passo a descrever: a) Coloco em segundo plano as reuniões de A.A; b) Compareço mas falo dos outros ou até de mim mesmo, porém fico na defensiva; c) Critico nossos servidores, a coordenação, a experiência, mesmo papo de insanidade eu ouvia sim, mas no botequim. 06B). – Substituo as idéias e sugestões da programação pelas minhas próprias. Ignoro que os Passos são Doze e não dois. Desejo praticar o programa ao meu modo, pois no meu caso pode ser diferente. Desenvolvo displicente autoconfiança, tipo – Beber? Eu? Jamais! Isso nem me passa pela cabeça, afinal já sofri tanto. Sou alcoólatra, mas não sou burro. Assim mantenho uma abstinência teimosa e sofrida. Faço pouco caso quanto a gravidade do alcoolismo, doença tríplice, incurável e fatal. Esqueço que é Só Por Hoje! Que só eu posso, mas não posso sozinho. 06C). – Na solução de problemas, julgo-me auto-suficiente e não recorro ao Terceiro Passo, até porque, nem acredito no Segundo. 06D). – Será que alguma vez disse ou pensei: “Eu faço o meu Quarto e Quinto Passos nas reuniões de A.A. ou só na presença de Deus?” Se assim for, me declaro irresponsável ou no mínimo mal informado. Isso é conversa fiada. Não liberta. Não funciona. Não resolve. Não alivia. Não gera sobriedade. Só tumultua e piora cada vez mais. Além disto o Quinto Passo é bem claro: “Admitimos Perante Deus, Perante Nós Mesmos E Perante Outro Ser Humano, A Natureza Exata De Nossas Falhas”. E não perante Outros Seres Humanos. Existem particularidades que só revelo ao meu padrinho de Quinto Passo e a mais ninguém. 06E). – “Prontificamo-nos Inteiramente A Deixar Que Deus Removesse Todos Esses Defeitos De Caráter”. Esses, Quais? Aqueles que identifiquei no Quarto Passo; verbalizei no Quinto e agora, com a ajuda d’Ele, aos pouco, os eliminarei trabalhando o Sexto Passo. 06F). – Será que como posso semear a mais bela, formosa e rica de todas as sementes, a da humildade, preconizada no Sétimo Passo, em terreno infestado por ervas daninhas ou num matagal? Se minha casa está alugada para um mau, como posso alugá-la para um bom? Como posso obter humildade, se trapaceio até na programação de A.A. – questão de vida ou morte? 06G). – Como posso relacionar os prejudicados e repará-los? Se ainda me julgo o único prejudicado? 06H). – Como posso, fazer os inventários: Relâmpago, Diário e Periódico? Se continuo chafurdando no lamaçal deixado pela pior das enchentes, a 06I). – Como posso desfrutar da quietude interior, da paz e da harmonia possibilitadas pela prece e a meditação? Se continuo me rebelando contra Deus? Como posso entrar em consonância com a Consciência Divina se continuo embrulhado nos meus defeitos e na própria vida? 06J). – Posso até levar a mensagem aos sofredores, mas e quanto ao despertar espiritual prometido para quem pratica o programa? Como posso exercer os princípios, inseridos nos Passos, em todas as minhas atividades diárias, se nem os conheço? 06L). – De muito longe, mas muito longe mesmo sobriedade é só parar de beber. Preciso modificar-me e para melhor. Fui convidado para o banquete dos Doze Passos. Não quero contentar-me apenas com as migalhas do Primeiro e parte do Décimo Segundo Passo. Seria insensatez. 06M). – Quero ser feliz, mas não sei como ou não faço a minha parte. Busco a felicidade nas coisas e não dentro de mim. Valorizo mais o ter do que o ser, o material do que o espiritual, a promoção do que a atração, a força de vontade do que a boa vontade, o intelecto do que a humildade e sou mais fachada do que alicerce. Assim raciocinando e agindo traço metas além do meu potencial, porque tenho medo de não ganhar o suficiente ou de perder aquilo que já tenho. Desta forma exijo demais de mim e dos outros, afinal a felicidade está nas coisas e não em mim. 06N). – Desafortunadamente, penso, ajo e trabalho compulsivamente. Não doso minhas atividades. Exagero! Descuido dos horários das refeições, do sono e do lazer. Sinto cansaço físico e mental. Estou esgotado! E acaso não deveria estar? 06O). – Fico mal humorado, triste, ranzinza, azedo, irritado, tumultuado, confuso, preocupado, revoltado, com raiva, muito nervoso, frustrado e deprimido. 06P). – O ideal seria dedicar-me oito horas ao trabalho; oito horas entre atividades comunitárias, A.A. e lazer; finalmente oito horas para o necessário repouso. 06Q). – Se não estiver agindo assim é melhor PARAR, em inglês escreve-se HALT, Hunger = Fome; Anger = Raiva; Loneliness = Solidão e Tiredness = Cansaço. Portanto, diante da Fome; Raiva; Solidão ou isolamento e Cansaço ou fadiga. Pare, pois sinalizam perigos de recaída iminente. 06R). – Se eu continuar nesse porre seco, crio uma visão de túnel, isto é, tenho uma idéia empobrecida dos perigos que me cercam. Não consigo avaliar aquilo que está acontecendo comigo e em torno de mim. Começo a me queixar de A.A., das reuniões, dos companheiros, dos familiares, do trabalho, dos amigos, do clero, dos subalternos, dos superiores, dos governantes, da mídia, do cachorro, do gato, do mundo e acima de tudo de mim mesmo. Julgo que tudo está difícil. Que ninguém colabora comigo e, o pior, que nem me entendem. Os mecanismos de defesa se reinstalam. (Negação, racionalização, projeção, minimização…). Lembra-se deles ou já os esqueceu? Procuro saídas erradas como: viagens, praias, pescarias. (Posso e devo desfrutar desde lazer, desde que não seja como mera fuga geográfica). 06S). – Já sei tudo sobre a doença e à Irmandade. Sou professor em A.A. Mas, continuo com os velhos hábitos. Por puro orgulho, mascarado de vergonha, rejeito ajuda embora saiba que funciona sempre. Mas, só para os outros, não para mim. Daí caio na pior das armadilhas, para melhorar um pouco dos “nervos” uso calmantes – (Benzodizipínicos). 06T). – Mesmo quando tudo está bem e sinto euforia, preciso vigiar-me, pois a idéia de beber pode surgir e diluir os horrores do alcoolismo ativo, cedendo lugar à falsa idéia de que “uma só bebida” poderia não ser tão ameaçadora, perigosa ou fatal. Mas, repito, meu grande espinho – na carne, na mente e na alma – é a depressão profunda. Para aliviá-la recorro aos Benzodiazipínicos que, fatalmente, me induzem ao copo. Por gratidão registro aqui o zelo que os meus dois padrinhos me dispensam quando decido visitar o inferno. O padrinho Amaury com firmeza mas também com a polidez que sempre o caracterizou, habilidosamente, me persuade que retorne ao Grupo de origem e revele minha desventura. O padrinho Guilherme, que é padre me presta socorro com conotação Divina. Aborda-me com dureza, mas profundo amor cristão – indo muito além do habitual. Ele faz lembrar aquela estampa de Jesus segurando no colo a ovelha que esteve perdida. 06U). – Agora me restam duas saídas: Retornar à A.A. e reconquistar a alegria de viver em paz ou mergulhar na desgraça bêbada cujo infortúnio conheço e os que me são queridos também. 06V). – Alguns anos atrás assistia, numa rede de TV, a maratona de idosas. 06X). – Não posso esquecer que cada qual atrai o seu igual. E o meu igual está numa sala de A.A. ou no bar. Assim, apesar da eventual vergonha, da culpa e da humilhação reassumo a programação com maior empenho e honestidade. Compartilharei com os companheiros meu infortúnio sem minimizar. (Melhor no grupo que adotei). Nunca é demais lembrar que no A.A. serei sempre muito bem vindo e compreendido. Só um insano pensa diferente. 06Z). – O grande antídoto para as recaídas é a prática do programa de A.A. na sua globalidade: Recuperação – Unidade – Serviço. Lembrando-me que a recaída é o fruto do acúmulo de emoções negativas não verbalizadas nas reuniões. Acúmulo que me leva à bebedeira seca ou “porre seco” e dai ao garrafão. Agora valorizarei muito mais a freqüência nas reuniões E as experiências dos AAs. “Na Escola Da Vida Não Há Férias!” Penso que o companheiro que recai constantemente, mesmo freqüentando reuniões, corre o perigo de perder a esperança de tudo, até de A.A. Isso pode ser fatal. É brincar de roleta russa. 07). – O psiquiatra, Dr. William D. Silkworth foi pioneiro no tratamento do alcoolismo nos Estados Unidos da América do Norte. (Foi o médico que internou e tratou o Bill W.). E, na longínqua década de 30 escreveu o artigo que, pelo seu valor histórico transcrevo na íntegra: 08). – Transcrevi o artigo de um profissional da década de 1930, a seguir fragmentos de um artigo desta década. São do Dr. Lais Marques Da Silva, ex-presidente da JUNAAB, Custódio não alcoólico. Grande amigo dos AAs., e até hoje nosso incansável colaborador, escreveu ele: 09). – Freqüentar ou não lugares onde servem bebidas? Pessoalmente evito ou vou acompanhado de um AA. Bill W. afirma: “Geralmente não evitamos um lugar onde haja bebida – se temos uma verdadeira razão para estar lá. Isso inclui bares, clubes noturnos, bailes, recepções, casamentos, até simples festinhas. Você vai notar que incluímos uma importante restrição. Assim, pergunte a você mesmo: “Tenho alguma boa razão social, comercial ou pessoal para ir a esse lugar?” “Ou espero roubar um pouco de prazer vicário do ambiente?” Então, vá ou se afaste, de acordo com o que lhe parecer melhor. 11). – Permitam que explore um pouquinho mais esse particular. Já descobrimos muitas maneiras de lidar com situações onde outros bebem e podendo nos sentir bem sem beber. Não podemos impedir que os outros bebam, nem renunciar ao prazer da companhia deles, embora seja mais sensato estar com quem não bebe. As pessoas que não podem comer camarão, peixe, nozes, morangos ou doces não se escondem em cavernas. Porque o faríamos nós? 11A). – No inicio da abstinência, é recomendável mantermos-nos afastados dos copos e dos lugares onde bebem. Podemos dar desculpas para não ir às festas onde beber é o grande divertimento. É importante afastarmo-nos destas situações se elas nos causam mal estar. Tendo mesmo que ir e sabendo de antemão a hora que começa a festa, podemos chegar mais ou menos quando o jantar é servido. Muitos de nós fazemos isto. Se houver uma noitada de copos depois do jantar é melhor sair mais cedo. Poucos ou ninguém notará nossa saída. Chegando antes do jantar, dirijo-me ao bar e peço um refrigerante num copo com uma rodela de limão e gelo. Ninguém saberá se é ou não uma bebida alcoólica. Assim posso confraternizar sem precisar suportar as investidas do garção e sua bandeja. A experiência acumulada de A.A. sugere várias formas de como lidar com êxito nestas situações. Ademais, qualquer companheiro mais antigo pode dar dicas de como lidar melhor com essas armadilhas. Se preferir dar desculpas, as seguintes parecem razoáveis. Não estou bebendo por razões de saúde. Estou fazendo dieta. Estou tomando antibiótico. O álcool me causa um tremendo mal estar. Já bebi tudo o que tinha direito. Já bebi tudo o que podia e descobri que não me cai bem. Tenho uma espécie de alergia ao álcool. 11B). – Atualmente, minha explicação é muito mais direta, honesta, sincera, eficaz – não bebo porque sou portador da doença do alcoolismo e, se eu beber um único gole não consigo mais parar, mesmo depois de estar completamente bêbado. Com esta explicação já recebi vários pedidos de ajuda. “Olha meu pai, minha mãe, meu tio, meu cunhado …” e por ai afora. 12). – Os relatos dos recaídos são estarrecedores. A maioria detona tudo aquilo que ainda haviam preservado. Muitos não suportando tamanha desventura se suicidam. O desespero, o transtorno emocional, espiritual e até mental e o agravamento da insanidade é tão intenso que os impedem de raciocinar que todo suicida sempre mata a pessoa errada. Citarei alguns casos: 12A). – Um padre, 18 anos sóbrio, recaiu numa tarde. Na madrugada seguinte enforcou-se na sacristia da igreja. 12B). – Um bom pai, de ótima família e reputação ilibada recaiu num final de semana. Na noite de domingo enforcou-se num pessegueiro. 12C). – Um consagrado jornalista, detentor do maior premio do jornalismo brasileiro, bebeu e na mesma noite suicidou-se com um tiro na cabeça. 12D). – Um companheiro magnífico, no desespero entre beber ou não, ao invés de pedir ajuda, jogou-se do alto de um prédio. 12E). – Outro companheiro bebeu. Internou-se e não suportando a desesperança, suicidou-se cortando as duas jugulares com um pedaço de vidro dentro do hospital. 12F). – Um homem bem sucedido, em quase tudo. Estava sem beber, mas sem a programação. Sentia-se muito infeliz. Enforcou-se numa viga da garagem. 13). – Muitas centenas de companheiros que recaíram, não tiveram uma segunda oportunidade. Alcançaram a morte bebendo. A insanidade reinstalada é tão traiçoeira que impede enxergar a saída que, sabemos estar logo ali. 14). – “Sabemos que enquanto o alcoólico se mantém afastado da bebida, ele geralmente reage do mesmo modo que as outras pessoas. Estamos igualmente convictos de que, quando ele ingere álcool, alguma coisa acontece, tanto no sentido físico como no mental, impedindo-o virtualmente de parar. A experiência de qualquer alcoólico confirmará isso plenamente. Seriam desnecessárias e acadêmicas essas observações, se o indivíduo nunca tomasse o primeiro gole, pois este é o que põe em movimento o terrível círculo vicioso…”. 15). – Nossa maior ameaça, desde os primórdios de A.A., é a recaída. De sorte que resumirei alguns relatos do Livro Azul, inicio com a catastrófica relutância de um companheiro, homem inteligente, de boa família, honrado, querido, bem casado, pai admirável, filhos educados, bem relacionado, dinâmico, trabalhador, responsável, honesto, recordista na 2ª Guerra Mundial, exímio vendedor, dono de uma lucrativa revenda de automóveis, normal em tudo, salvo, seu alcoolismo. Quando bêbado tornava-se violentíssimo. Foi internado num manicômio. Após sua alta, Bill W., lhe contou sobre seu alcoolismo e recuperação. Rapidamente parou de beber. 16). – Podemos chamar isso de loucura. É inacreditável como a obsessão pelo álcool dribla até a inteligência privilegiada. Já atribuímos nossas recaídas a circunstâncias tais como: depressão, ciúme, inquietação, irritabilidade, nervosismo, cólera e etc. Parecem boas razões, mas falsas – face ao sofrimento que a bebida exige e impõe. 17). – O comportamento do alcoólico é tão louco como alguém com o impulso de ziguezaguear pelo meio do trânsito intenso. Fica feliz correndo entre os carros em movimento; continua se arriscando, apesar das recomendações contrárias. É classificado como esquisito. Sofre inúmeras fraturas; interna-se para tratamento; recebe alta e continua com sua maluquice, até fraturar a coluna ou o crânio e ficar paraplégico ou morrer. A obsessão pelo álcool supera tudo aquilo que podemos imaginar. Alguns podem julgar a comparação exagerada e louca. Mas, não é. Nós que mordemos a isca do alcoolismo sabemos que, basta substituir a palavra ziguezaguear pelo 1ºgole. Todavia, apesar de tão bem informados sobre a doença, por que não o evitamos? A compulsão é tão intensa e traiçoeira que faz lembrar uma forma de loucura, ou qual outra designação um quadro de recaída poderia receber? 18). – As peripécias de Frederico, bom filho, bom namorado, bom marido, bom pai de filhos bem encaminhados, bom amigo, bom profissional, dono de uma empresa, bem relacionado, mas também bom de copo. Internou-se para tratar “dos nervos”. Era sua primeira experiência deste tipo. Sentia-se envergonhado e humilhado. O médico lhe informou da gravidade do seu alcoolismo. Foi abordado; não aceitou nosso programa. Tinha certeza que, com a humilhação e arrependimento impostos, não beberia até o fim de sua vida. Ademais, seu conhecimento e firme determinação, seriam a solução definitiva do problema. Não deu mais notícias, até o dia em que se internou novamente e mandou chamar Bill W., contando-lhe a história que transcrevo na íntegra:”Fiquei muito impressionado com o que vocês me explicaram sobre o alcoolismo e, francamente, não acreditei que seria possível eu tornar a beber. Apreciei bastante suas idéias sobre essa loucura momentânea que antecede o 1º gole, mas confiava em que não podia acontecer a mim depois do que havia aprendido. 19). – Outro alcoólico parou de beber aos trinta anos, porque tinha grande ambição profissional. Obteve considerável sucesso. Aposentou-se aos cinqüenta e cinco anos. Reativou seu alcoolismo. Dois meses depois se internou, confuso e humilhado, num nosocômio. Apesar dos internamentos, sua fortuna e invejável força de vontade – morreu de alcoolismo, logo após. Esta poderia ser mais uma grande lição entre milhões de outras. Para sermos enterrados em sobriedade precisaremos sepultar a esperança de que um dia seremos imunes ao álcool. Para sermos alcoólatras e alcançar a morte, não precisamos beber muito e nem por muito tempo. 20). – O alcoólatra é como a cana, ela só dá o açúcar depois de passar por grandes apertos. Se alguém disser para um canceroso, evite comer verduras e ficará curado Ele jamais as comerá e passará longe de gramados por serem verdes e dos quartéis, só porque lá usam roupa verde – oliva. Se, lhe fosse dito – assista duas reuniões mensais e deterás o câncer, ele participaria de duas diárias. Por outro lado o alcoólatra duvida até daquilo que lhe é dito por técnicos qualificados. Bill, afirmou: 21). – Todos nós conhecemos Os Doze Passos de A.A. sugeridos para a recuperação, talvez muitos não conheçam as seguintes “armadilhas” para uma dolorosa recaída: 22). – Não preciso entrar em pânico caso surja uma leve vontade de beber, mas, se for compulsão preciso pedir ajuda urgente, nem que ela seja por telefone. 23). – O fato concreto é que eu devo estar preparado para o revezes da vida. 24). – Nunca fiz e jamais farei a apologia da recaída, porém ouso dizer que ela tem uma “virtude”, a de convencer um cabeça dura – que nem eu – que o 1º gole estraçalha qualquer alcoólico. Bill W. escreveu uma carta para um companheiro recaído. Ela corrobora com minha assertiva. Eis parte dela: 25). – Transcrevo o relato abaixo por parecer-me patético, dramático e hilariante: “Então, certo dia, Morgan, nosso homem irlandês, teve uma idéia. 26). – Hoje não precisamos ficar trancafiados para evitarmos o 1º gole. Bibliografia: “Livro Azul Edição Brasileira” – “Livro Azul Edição |