Dr. Oscar Rodolpho Bittencourt Cox Presidente da Junta de Serviços Gerais do Brasil Quando os veteranos perceberam a finitude da vida do Ser Humano e a grandiosidade daquilo que casualmente ocorreu entre dois bêbados, ou seja, a possibilidade de deixarem de beber, identificaram um sério problema existencial para a continuação daquilo que descobriram. Bill e Dr. Bob, considerados co-fundadores da Irmandade de Alcoólicos Anônimos, nos primeiros momentos foram buscar outros bêbados e Bill mostrou a eles a possibilidade de formar uma cadeia de reabilitados diante da doença do alcoolismo. Alcoolismo, doença secular, sem solução plausível e que agora no século XX começou a ser interrompida no seu processo destruidor. Os números e estatísticas mostram a extensão deste mal e quando o câncer surgiu no corpo do Dr. Bob, levando-o a falecer em novembro de 1950, percebeu-se que o processo de recuperação dos alcoólicos não podia ser interrompido. A estrutura de A.A, nos primórdios apresentava duas Áreas de atuação que corriam em paralelo, isto é, sem contato uma com a outra. A primeira, formada pelos Grupos, vivenciando o programa e a segunda, pelos amigos de A.A. que orientavam e, juntamente com os co-fundadores, administravam a Irmandade (Fundação do Alcoólico, criada em maio de 1938 – futuros Custódios Não Alcoólicos). Ocorreu então, historicamente, um processo dirigido por Bill W. de aproximação para que os grupos apreendessem estes amigos, esta administração e juntos assumissem o comando do processo. Deste modo a finitude humana não mais teria influência sobre o destino de A.A. podendo se esperar a perenidade desta recuperação tão inovadora e espetacular em que pessoas doentes pudessem assumir a própria responsabilidade sobre sua saúde e vida. A ameaça à saúde do Dr. Bob o, talvez, poder moderador, junto à impulsividade de Bill W., levou a que em 1950 ocorresse a 1ª Convenção Internacional em Cleveland (julho 1950) com a anexação das Tradições ao programa. É em abril de 1951, após a 1ª Conferência de Serviços Gerais, que começa um período experimental de cerca de cinco anos, unindo os Custódios de A.A. com a Irmandade como um todo. Deste primeiro encontro houve uma caminhada contínua até 1955, quando em Saint Louis, Bill W. se retira da direção de A.A. e os Grupos passam a assumi-la. Nesta época, já eram conhecidos pela Irmandade os Passos da Recuperação (1939) e as Tradições (1946). Surge então, a necessidade do treinamento, da preparação de novos líderes em A.A.. Pessoas que pelo amor e gratidão à sua recuperação, desejam participar da manutenção do processo que um dia as salvou. Em Alcoólicos Anônimos se dá o nome de -APADRINHAMENTO EM SERVIÇO- Apadrinhar quer dizer compartilhar erros e acertos e deixar que o apadrinhado caminhe ao lado. Para tal, tenho que estar aberto e desapegado para estender a mão. A partir de 1962, quando surgem os Conceitos, o 4° nos informa: "A participação é a base da harmonia". A estrutura em serviço através do Manual sugere uma série de encargos e períodos para exercê-los. Surge daí, como conseqüência, a necessidade de um grande número de membros serem apadrinhados nos encargos o que inexoravelmente só é possível com grande oferta de pessoas e logicamente: ROTATIVIDADE. A ROTATIVIDADE EM SERVIÇO necessita de muitos servidores novos chegando, apadrinhados pelos veteranos, que passando pelos encargos, não mais os ocupam, mas que, presentes, estimulam e criam novas lideranças. Para isto, membros de A.A., precisam aprender a AMAR. AMAR É PERMITIR QUE O OUTRO SEJA ELE, AO MEU LADO. A ROTATIVIDADE NÃO É DESCARTAR. A ROTATIVIDADE POSSIBILITA APRENDER A AMAR. A ROTATIVIDADE POSSIBILITA CONVIVER COM AS DIFERENÇAS. A "ROTATIVIDADE – CHAVE PARA O FUTURO" é um grande desafio para Alcoólicos Anônimos porque exige pré-requisitos fundamentais: a TRANSFORMAÇÃO DO MEDO PESSOAL em relação à doença e de si mesmo (distonia) numa entrega e confiança a um Poder Superior. SÓ O PODER SUPERIOR RETIRA O MEDO HUMANO Daí, o cidadão poder exercer A PRÁTICA DO AMAR. Outro requisito fundamental: temos que confessar que não sabemos AMAR e pedir ajuda para o aprendizado. Um terceiro quesito é o desapego. O desapego a coisas e pessoas é possível quando entro no processo do autoconhecimento em que os referenciais externos eu próprio os desloco para dentro de mim. São meus valores que passam a me orientar. Deixo o perfeccionismo, pois não tenho mais que agradar pessoas para que elas me amem. Deixo de ser condicionado pelos outros e passo a ter meus próprios pontos de referência através dos sentimentos. Posso acertar como errar. Acredito ser uma pessoa. Devido a estas dificuldades, o animal-homem (Homo sapiens) quando em grupo confiável tende biologicamente a defender um corporativismo cada vez mais conservador e conseqüentemente destruidor. O grupo defende o membro deste grupo e este protege o grupo e assim, o conjunto (membro/grupo), agindo com esse poder, atropela o direito do indivíduo, o direito das minorias em particular. Este mesmo indivíduo, fora do grupo, apresentará um discurso que não condiz com sua conduta quando no grupo. Este aspecto biológico é combatido pela ROTATIVIDADE e daí o título: CHAVE PARA O FUTURO pois, será graças a ela que OS PRINCÍPIOS serão preservados. Daí, o recém-chegado ao grupo ser o mais importante na reunião. Esta visão é extremamente revolucionária para a humanidade. Estamos moldando, na visão de Bill W., um novo Homem em recuperação e mais espiritualizado. Toda empresa e A.A. têm o seu lado empresarial. A.A. é uma grande editora, que tende a proteger, como toda empresa, sua condição de sobrevivência empresarial, quando ameaçada. Mas como A.A. possui o lado tradicional (o mais importante), será a ROTATIVIDADE a sua grande protetora. Ela deve ser almejada, tendo como única autoridade a consciência de grupo, facultando o não temer os novos servidores em potencial, seus novos desafios de cada vez mais abrir toda a estrutura em todos os níveis de serviço, do grupo aos comitês da Junta, onde todo alcoólico em recuperação deve e pode circular apadrinhado e apadrinhando. Na Junta urge a presença de membros de A.A. de todas as áreas presentes aos Comitês de Assessoramento e em especial: CAC: COMITÊ DE ASSUNTOS DA CONFERÊNCIA; COC: COMITÊ DE ORGANIZAÇÃO DA CONVENÇÃO. Cientificamente, o exercício prolongado e repetitivo, relativamente passivo, onde a falta de renovação existe, (como exemplo podemos citar: espetáculos, televisão, leitura de jornais e revistas de conteúdo superficial) provocam rapidamente o tédio e a aversão. No nosso caso, serviços e grupos "quase parando", maratonas repetitivas e intermináveis são os exemplos. Estas atividades assim postas não estimulam suficientemente nosso organismo. A Psicologia Industrial nos mostra que a produção de um empregado é melhor e sua motivação é mais elevada quando lhe confiam um trabalho no qual pode exercer certa medida de iniciativa e de criatividade e, sobretudo, quando lhe é permitido completar uma parte significativa e unificada deste trabalho ao invés de confiá-lo à repetição mecânica de gestos minuciosamente medidos. Resumindo, eis a importância sob um outro aspecto da ROTATIVIDADE. Há muitos anos o G.S.O. (General Service Office) adotou o conceito da ROTATIVIDADE nos encargos do pessoal de A.A. Para o conhecimento e exercício de todos os encargos da estrutura de A.A. há, portanto, necessidade de estar ao lado da experiência e da vivência de erros e acertos. Isto é a ROTATIVIDADE DINÂMICA onde o apadrinhamento não pode ser capenga porque o alcoólatra não se estruturou no AMAR, não foi orientado a aprender a AMAR: a ser ele e, logicamente, não sabe o que fazer. Podemos chamar de um "EGOÍSMO ENVERGONHADO". Do exposto acima é que provém a queixa comum da falta de servidores, permanecendo as mesmas pessoas em serviço apenas mudando de encargos. Este movimento rotatório dos mesmos servidores é movimento de morte, porque não havendo "sangue novo", o corporativismo cresce e a desconfiança acompanha, logo acabando em fechar a mão de A.A. A Irmandade morre. O membro de A.A. deve aprender e exercitar o pertencer. Daí, repetindo o título: ROTATIVIDADE NO SERVIÇO: CHAVE PARA O NOSSO FUTURO. Este é, portanto, um grande desafio para Alcoólicos Anônimos. Estes comentários devem ser exaustivamente praticados e não devemos fugir do conflito. Temos que aprender a conviver com as diferenças. E é isto a prova maior de AMOR, de entrega ao PODER SUPERIOR. Eis um grande desafio proposto para Alcoólicos Anônimos a partir desta Conferência. Estejamos desarmados, com mente aberta e boa vontade para discutir o melhor para Alcoólicos Anônimos. Para todos nós, uma boa Conferência. 30/11/2012 |