"Faz-se então necessário resgatar o verdadeiro significado do ato sexual. Na verdade,temos uma oportunidade impar de redescobrir o prazer da sexualidade. É tempo de voltar ao namoro, descobrir o outro, seus gostos, seus sentimentos, seus desejos e também os nossos. Afinal, o prazer do ato sexual está intimamente ligado aos sentimentos que nutrimos por nosso par. É uma ligação espiritual que temos de construir entre nós e o outro. Mas isso exige coragem e boa vontade." Falar sobre sexualidade sempre é difícil face aos tabus e preconceitos que envolvem o assunto. Falar sobre a sexualidade do alcoolista talvez seja ainda pior, uma vez que o tema não é exatamente visto como prioridade dentro da recuperação, o que por si só já e uma ótima desculpa para não se tocar no assunto. Entretanto, nossa experiência profissional tem mostrado que aspectos ligados à sexualidade podem ser gatilhos poderosos no desencadeamento de recaídas. Vejamos primeiramente aquele período inicial da recuperação, quando é comum a falta de apetite sexual, a ejaculação precoce, ou mesmo a falta de ereção. Sem dúvida, dificuldades assustadoras para qualquer um! Nessa fase é importante saber que, à medida que o tempo de abstinência aumenta, tais problemas tendem a desaparecer naturalmente. A importância disso não diz respeito apenas ao alívio quanto ao desaparecimento de sintomas tão desagradáveis, mas principalmente à prevenção da recaída, quando a auto Piedade e a insegurança frente à situação podem parecer justificativas razoáveis para um gole. Outro aspecto importante a ser considerado é que vivenciar a sexualidade em recuperação é completamente diferente de vivenciar a sexualidade durante a ativa. Naquele tempo, o álcool nos fazia sentir sempre seguros de nossa atuação, levando-nos a supor qu éramos os maiores amantes do mundo. Na verdade, era mais uma oportunidade para que nosso egoísmo se manifestasse, uma vez que não costumávamos nos importar com o prazer de nosso parceiro. Imagine como deveria ser deitar-se com alguém cheirando a álcool, suado e mal sabendo o que estava fazendo ou com quem estava. Era somente um ato de satisfação fisiológica, como comer ou urinar, completamente desprovido de significado. Com o início da recuperação, surgem novos desafios. Somos quase desconhecidos para nós mesmos e para o outro. Muitas vezes, até mesmo a nudez pode ser difícil "de cara limpa". Já não estamos mais tão seguros quanto outrora. Será que estou gordo demais? Já não sou tão jovem! Poderei satisfazer meu parceiro? Faz-se então necessário resgatar o verdadeiro significado do ato sexual. Na verdade, temos uma oportunidade impar de redescobrir o prazer da sexualidade. É tempo de voltar ao namoro, descobrir o outro, seus gostos, seus sentimentos, seus desejos e também os nossos. Afinal, o prazer do ato sexual está intimamente ligado aos sentimentos que nutrimos por nosso par. É uma ligação espiritual que temos de construir entre nós e o outro. Mas isso exige coragem e boa vontade.Outro aspecto importante a ressaltar nessa questão é aquele que está ligado a práticas inadequadas da sexualidade. Não quero dizer que isso ou aquilo não deva ser praticado pois é errado ou coisa assim. Estou falando das razões que temos para praticá-lo. Falo de lascívia e luxúria, que mais uma vez nos remetem ao egoísmo. Aqui, o grande desafio está em abandonar comportamentos prazerosos que alimentam nossos defeitos de caráter. Talvez você esteja se questionando: por que não? O que isso tem a ver com minha recuperação? Afinal, que mal há nisso, já que é uma prática tão comum nos nossos dias? Na verdade, se os outros podem se dar ao luxo de cultivar certos defeitos de caráter sujeitos apenas a consequências, ao dependente químico, de modo geral, tal luxo não é permitido, pois alimentar tais defeitos pode levá-lo à recaída e, em consequência, à morte. Portanto, não vale a pena vacilar. A vitória frente a essas questões está intimamente ligada à pratica do Sexto Passo. Finalmente, vale lembrar que o prazer da sexualidade foi dado aos seres humanos pelo Poder Superior. E cabe a cada um de nós apropriar-se ou não desse privilégio. (Eleni Rodrigues Mender Rangel, psicóloga especializada em dependências químicas, atuando no Espaço Aberto Hospital Dia S/C) – Vivência N° 48 – JUL/AGO 1997 "O prazer da sexualidade foi dado aos seres humanos pelo Poder Superior. E cabe a cada um de nós apropriar-se ou não desse privilégio". O QUE O ÁLCOOL PODE CAUSAR:TRÊS CAMUNDONGOS DECIDEM BEBER UNS TRAGOS. O PRIMEIRO DIZ: – VAMOS BEBER UM COPO E CANTAR. O SEGUNDO RESPONDE:– VAMOS BEBER DOIS COPOS E DANÇAR. O TERCEIRO COMPLETA:– VAMOS BEBER TRÊS COPOS E DAR UMA SURRA NAQUELE GATO! Secretaria de Literatura Maria da Paz/Egeu. |