Ver Cristo no bêbado Alcoólicos Anônimos não é o único lugar onde se para de beber. Mas, seguramente, é um dos melhores. Jamais vimos alguém se arrepender de ter parado de beber em A.A. Pelo contrário. A cada reunião, nos deparamos com manifestações de alegria daqueles que, finalmente, encontraram solução para seus problemas de excesso no beber. "Quando qualquer um, seja onde for, estender a mão pedindo ajuda, quero que a mão de A.A. esteja sempre ali. E por isso: Eu sou responsável". Esta é nossa declaração de responsabilidade adotada na Convenção Internacional comemorativa do trigésimo aniversário de A.A., em 1965. Esta responsabilidade é individual e intransferível. Somos pessoalmente responsáveis por todos aqueles que nos pedem socorro. Não podemos transferir esta responsabilidade. O doente alcoólico que nos procura precisa ser atendido na hora, sem demora, ou pode morrer. Não fomos resgatados de um mundo encharcado de álcool por nossos próprios merecimentos, mas exclusivamente pela graça de Deus. Com a sobriedade, adquirimos respeito, dignidade, direito de andar de cabeça erguida, de ser, novamente, participante de um sadio convívio social. Para permanecermos sóbrios, é necessário dividir esse divino presente com outras pessoas. Encerrar-se numa torre de marfim, fugir dos compromissos com o alcoólico sofredor é atitude egoísta, incompatível com nossa condição de agraciados pelo Poder Superior. Ou distribuímos nossa sobriedade com outros e crescemos ou guardamos esse tesouro escondido a sete chaves, enfraquecemos e bebemos. E, para o alcoólico, beber é morrer. Não há escapatória. É uma imutável lei de causa e efeito. Deus está presente em cada bêbado que encontramos. Não serviremos a Deus sem servir ao homem. Se não servimos ao homem de carne e osso presente, visível, palpável, às vezes até aborrecido em suas bebedeiras, para nos lembrar do que realmente somos, como poderemos servir a Deus, que é espírito invisível, intocável? Esta é nossa mensagem natalina. Ver Cristo no bêbado. O Cristo caído, rejeitado, humilhado, maltrapilho e faminto, o Cristo abjeto e desprezado por todos, sofrendo e morrendo, vomitando e vomitado, nas prisões, nas indigências dos hospitais e nas sarjetas, é este Cristo escárnio da humanidade que nos pede uma palavra de esperança, uma promessa de recuperação, de retorno à dignidade humana através do programa de recuperação de Alcoólicos Anônimos. Tenham todos um Santo Natal e felizes abordagens no Ano Novo. Vivência nº 22 - Out/Nov/Dez 1992 |